Já faz mais de um ano que cientistas de todo o mundo estudam intensamente o novo coronavírus. Mesmo assim, depois de perto de 350 mil pesquisas sobre o microrganismo já terem sido publicadas, ainda há aspectos não desvendados sobre ele e há muitas perguntas sem resposta sobre ele e a Covid-19.
Veja, a seguir, algumas das principais dúvidas que ainda envolvem o novo coronavírus e sua atuação.
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Chegada aos humanos
Peter Ben Embarek, chefe da missão da Organização Mundial de Saúde (OMS) que foi à China investigar a origem da pandemia, acredita que é extremamente improvável que o novo coronavírus tenha sido criado em laboratório. Por enquanto, os especialistas de sua equipe ainda não sabem como o patógeno chegou ao mercado de animais vivos de Wuhan.
A principal hipótese é de que o microrganismo vem dos morcegos e chegou aos humanos a partir do contato com uma espécie animal intermediária. Outros pesquisadores, entretanto, pedem “uma investigação forense internacional completa e irrestrita” sobre a origem do agente.
Segundo esses cientistas, possibilidades como zoonose e acidente de laboratório devem ser consideradas. Vale lembrar que a ditadura chinesa pode esconder fatos, como a hipotética infecção de um trabalhador de laboratório ao manusear amostras animais. Por isso, eles acreditam que “todos os cenários possíveis” devem ser avaliados.
Alguns pacientes morrem, enquanto outros nem percebem a infecção
Essa é mais uma das perguntas sem resposta que envolvem o novo coronavírus e a Covid-19. “Nos casos mais graves, há respostas imunológicas exageradas e hipercoagulabilidade (um risco aumentado de formação de coágulos sanguíneos). Precisamos entender o que acontece em nível molecular para criar tratamentos mais eficazes e personalizados”, avalia a patologista Elisabet Pujadas, da Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai, em Nova York, nos EUA.
Os especialistas também não sabem muito sobre o desenvolvimento da síndrome inflamatória pediátrica multissistêmica em uma pequena porcentagem das crianças infectadas pela Covid-19. “Decifrar os determinantes causais dessa condição é uma das dívidas mais importantes que temos no estudo da doença”, diz o médico Alberto Paniz Mondolfi, do Hospital Mount Sinai, em Nova York, nos EUA.
Variantes agravam a pandemia?
Com a disseminação sem controle, o novo coronavírus tem passado por mutações constantes – a mais recente foi identificada na França nesta semana. Algumas dessas variantes já até escapam parcialmente às defesas humanas.
Estudos tentam determinar se as vacinas são eficazes contra essas cepas. Muitos especialistas, como Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, acreditam que vai ser necessário atualizar os imunizantes periodicamente, como já acontece com as fórmulas contra a gripe.
Duração da imunidade da vacina
Uma das piores possibilidades da Covid-19 é o desenvolvimento de um quadro grave da doença. As vacinas já disponíveis resolvem isso: elas previnem praticamente 100% dessas ocorrências. Por outro lado, ainda há outras dúvidas sobre essas fórmulas.
A virologista Isabel Sola lembra que ainda não se sabe quanto tempo a imunidade estimulada pelos medicamentos vai durar. “Tampouco sabemos o quão potente é essa imunidade e se ela protege completamente da infecção ou apenas da doença”, diz.
Esse é um dos motivos por que vacinados devem continuar a usar máscara em contatos com não vacinados: se um deles tiver uma infecção assintomática, isso ajuda a impedir o contágio. Para Isabel, há três possibilidades para as vacinas:
- tomar as atuais é suficiente;
- a imunização deve ser anual;
- é necessário desenvolver novas fórmulas que, além de evitar os casos graves da doença, previnam infecções assintomáticas.
Como será o pós-pandemia?
Os especialistas são unânimes nesse aspecto: isso é uma incógnita. Mesmo assim, eles têm alguns palpites. “É possível que, no futuro, a Covid-19 seja uma infecção de ocorrência habitual, com possíveis surtos provavelmente associados às estações do ano”, especula Mondolfi, do Hospital Mount Sinai.
Ele lembra da gripe russa, ocorrida entre 1889 e 1890: foi necessário mais de um século para que, em 2005, a equipe do virologista belga Marc Van Ranst sugerisse que o causador da infecção era o coronavírus OC43, hoje basicamente inofensivo. “Este é um exemplo do caminho que o novo coronavírus pode estar trilhando: de protagonista de uma pandemia a ator coadjuvante em temporadas de gripe. Só o tempo dirá.”
A epidemiologista Marina Pollán espera que a sociedade aprenda com a pandemia. Para ela, é importante melhorar o atendimento aos idosos e fortalecer o sistema de saúde e a pesquisa científica. “Uma experiência como essa deve nos ajudar a reconhecer nossos pontos fracos e trabalhar para melhorá-los.”
Fonte: El País