Na última sexta-feira (12), o presidente Jair Bolsonaro anunciou o início do diálogo com Israel para realizar os testes clínicos do spray nasal EXO-CD24 no Brasil, com o objetivo de tentar reduzir a mortalidade entre pacientes que já apresentem casos graves de Covid-19. Agora, o chefe do executivo foi mais longe e afirmou que em breve será solicitado o uso emergencial do medicamento à Anvisa.
Até o momento, não foram realizados estudos suficientes que capacitem o EXO-CD24 para uma autorização de uso emergencial. Neste momento, foi realizado apenas um ensaio de fase 1, com apenas 30 voluntários, que sequer tinha o objetivo de analisar a eficácia da droga.
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Um teste de fase 1, como acontece com as vacinas, mira, acima de tudo, verificar a segurança do medicamento em testes e garantir que seus efeitos colaterais são toleráveis o suficiente para que seus potenciais benefícios possam ser analisados com um grupo maior de pessoas. Por exemplo: não faria sentido prosseguir um estudo de um medicamento potencial contra Covid-19 se os voluntários demonstraram um risco alto de infartos.
É fato que os resultados da fase 1 foram promissores, com 29 dos 30 voluntários internados em estado moderado ou grave evoluíram em 5 dias, mas sem um estudo mais amplo não é possível descartar que eles não se recuperariam sem precisar do tratamento. É por isso que os estudos são divididos em fases.
Na fase 3, do estudo, da qual o Brasil deve fazer parte, é quando se observa se o medicamento realmente funciona para o objetivo a que ele se propõe. Isso acontece pela realização de estudos com uma base ampla de participantes e, obrigatoriamente, com um grupo de controle que não receberá o spray nasal EXO-CD24, utilizando apenas um tratamento padrão. É apenas comparando os resultados em ambos os grupos que se pode confirmar que a droga realmente é capaz de salvar os pacientes.
Como o spray nasal funciona?
A droga experimental, chamada de EXO-CD24, foi criada inicialmente para combater o câncer de ovário, mas começou a ser experimentada em pacientes com situação grave de Covid-19. O objetivo do spray nasal não é combater o vírus, mas “acalmar” o sistema imunológico e suprimir o efeito conhecido como tempestade de citocinas, que é uma resposta exagerada do organismo que pode causar uma hiperinflamação que pode ser fatal.
Segundo os pesquisadores, o spray nasal utiliza exossomos (daí o “Exo” no nome) para carregar uma proteína chamada CD24 até os pulmões. É essa molécula, que fica localizada na superfície das células, que deve ajudar a regular o sistema imunológico e interromper o efeito danoso da ação exagerada.
O combate à tempestade de citocinas parece ser um caminho efetivo para redução de mortalidade. Até hoje, a única droga demonstradamente eficaz para reduzir as mortes pro Covid-19 foi a dexametasona, um corticoide que atua justamente dessa forma, modulando o sistema imunológico para evitar que ele traga mais danos do que benefícios em seu combate ao vírus.