Pesquisadores da Universidade de Durham, na Inglaterra, formularam uma teoria de que a Islândia seria não uma ilha, mas sim parte de um supercontinente que teria afundado no oceano há milhões de anos. As evidências levantadas por eles foram publicadas em 29 de junho, no Geological Society of America.
Segundo o time internacional de geólogos liderado por Gillian Foulger, professora emérita de geofísica da Universidade de Durham, o suposto continente é tão grande que poderia “conectar” a Groenlândia à Europa, com os pesquisadores afirmando que ele tem uma área entre aproximados 600 mil quilômetros quadrados (km²) e um milhão de km².
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“Até hoje, a Islândia tem confundido cientistas, já que as atuais teorias sobre ela ser construída e rodeada pela crosta oceânica não encontram suporte nos dados. Por exemplo, a crosta sob a Islândia tem uma grossura maior que 40 km – sete vezes mais espessa do que o número normal da crosta oceânica. Isso simplesmente não tinha explicação”, disse Foulger, que continuou.
“Entretanto, quando consideramos que essa camada grossa é, na verdade, a crosta continental, todos os nossos dados fizeram sentido. Isso nos levou a perceber que a região continental era bem maior do que a própria Islândia – então tem que haver um continente escondido bem ali, sob o mar”.
Se a professora parece bastante empolgada para você, saiba que isso não é para menos: se provada correta, a teoria formulada por sua equipe desafiará conceitos já aceitos como senso comum no que tange aos supercontinentes antigos. Especificamente, a teoria passa a sustentar que a Pangeia, que existiu há mais de 330 milhões de anos e se separou a cerca de milhões de anos, não se fragmentou tanto assim.
Mais além, a presença de uma crosta continental, ao invés da oceânica, na região, levantaria novas discussões sobre novas fontes de minérios e hidrocarbonetos – ambos em abundância na crosta continental.
“Ainda há uma quantidade fantástica de trabalho para ser feita para provar a existência de ‘Icelandia’, mas isso abre uma forma completamente nova de nossa compreensão geológica da formação do mundo. De repente, coisas similares podem estar acontecendo em vários outros lugares”, teoriza Foulger. “Nós eventualmente poderíamos ter que redesenhar nossos mapas dos oceanos e mares caso nossa compreensão do que está lá embaixo mude”.
O próximo passo será recrutar colaboradores de vários campos para colocar essa teoria à prova, algo que a professora emérita de Durham quer fazer assim que as restrições da Covid-19 relaxarem.
A situação provavelmente será avaliada com cuidado por diversos países. Além desse empreendimento exigir milhões e milhões de euros/libras para ser financiado, suas implicações, caso a teoria seja confirmada, atingirão espectros políticos e econômicos: segundo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, estados costeiros têm direitos exclusivos aos recursos não vivos de suas regiões marítimas caso cientistas provem que sua existência se dá em uma extensão submersa de terras pertencentes à sua massa continental.
Em outras palavras: imagine que recursos de minério residem em um supercontinente debaixo do Guarujá, no litoral de São Paulo. Legalmente, por estarem abaixo da massa continental que corresponde à terra brasileira, eles seriam nossos.
Segundo o professor Philip Steinberg, que dirige a comissão de pesquisas da Universidade de Durham, “países estão investindo imensos recursos em pesquisa geológica subaquática para identificar ‘bolsos’ minerais em sua cadeia continental, a fim de reclamar direitos exclusivos de uso e exploração”.
Evidentemente, uma pesquisa desse tipo levará anos, mas não se surpreenda se o assunto concentrar parte da atenção de vários governos a partir de agora.
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