Cientistas da Universidade de Bern, na Suíça, conseguiram identificar o princípio da homoquiralidade a bordo de um helicóptero, a uma velocidade de 70 quilômetros por hora (km/h) e dois quilômetros de altitude. A ideia é testar a capacidade humana de encontrar esse princípio em outros planetas, por meio da navegação de suas órbitas e atmosferas.
Para entender o processo, vale a explicação: “quiralidade” é o nome dado a um objeto que não pode ser sobreposto à sua imagem espelhada, ou seja, um “quiral”. Na química, os estudos moleculares estabelecem esse princípio como um dos mais essenciais à vida humana.
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Facilitando a compreensão: olhe para as suas mãos. Na maioria das pessoas, elas são cópias perfeitas uma da outra, porém, espelhadas, certo? Essa característica impede você de sobrepor uma mão à outra. Moléculas também têm esse formato: espelhadas e sem sobreposição.
Aminoácidos – os “tijolos” que constroem as proteínas – são majoritariamente canhotos (ou “sinistrais”, se você prefere ser técnico). Já os açúcares, que compõem o DNA e o RNA, são em sua maioria destros (ou “destrais”). Se você inverter qualquer um deles, toda a estrutura se desfaz. A isso, químicos deram o nome de “princípio de homoquiralidade”.
Ninguém sabe, ainda, o “porque” disso acontecer, mas o consenso é o de que é algo extremamente importante para nós. E investigar isso nas alturas pode, no futuro, permitir que a humanidade seja capaz de investigar a homoquiralidade em outros planetas. A mera condução de um experimento assim na Terra já ajuda a revelar informações importantes sobre a saúde de plantas, por exemplo.
“Quando a luz se reflete nas matérias biológicas, uma parte de suas ondas eletromagnéticas vai viajar em sentido horário ou antihorário”, disse o físico Lucas Patty, que participou do estudo. “Este fenômeno é chamado ‘polarização circular’ e é causado pela homoquiralidade de dita matéria. Espirais similares de luz não são produzidas por matérias não vivas”.
Tal pesquisa exige o uso de um instrumento chamado “espectropolarímetro”, que emprega vários sensores para separar a reação polarizada. A diferença aqui é a de que, nos últimos anos, a equipe liderada por Patty vem desenvolvendo um espectropolarímetro – que eles chamaram de “TreePol” – para detectar a polarização circular de vegetais a vários quilômetros de distância.
Depois, eles adaptaram uma versão do TreePol e criaram o “FlyPol”, uma versão aprimorada, adaptada para leituras em voo, com sensores mais sensíveis e adicionando controles de temperatura. E bastou sobrevoar as regiões de Val-de-Travers e Le Locle, na Suíça, para ver como eles vieram bem a calhar:
“O principal avanço é o de que esses instrumentos foram utilizados em uma plataforma em pleno movimento, vibrando, e ainda conseguiram detectar uma assinatura biológica em questão de segundos”, disse o astrônomo Jonas Kühn, também da Universidade de Bern. Segundo ele, o FlyPol não apenas foi capaz de separar leituras de matérias biológicas de abióticas (pense “separar mato de asfalto”), mas também categorizar volumes dentro da própria biologia analisada: em pouco tempo, o instrumento sabia, por exemplo, o que era arbusto e o que era árvore e até marcou com precisão algas embaixo d’água.
Agora, o time de pesquisa está refinando o instrumento, com o objetivo de testá-lo na identificação da homoquiralidade em alturas e velocidades maiores, tipo 27.580 km/h e altitude de 400 km, uma medida que você provavelmente vai reconhecer como “órbita baixa da Terra”.
“O próximo passo, esperamos, é o de executar detecções similares da Estação Espacial Internacional [ISS], direcionando nosso instrumento à Terra”, disse Brice-Olivier Demory, astrofísico da Universidade de Bern. “Isso nos permitirá avaliar a capacidade de detecção de assinaturas biológicas de escala planetária. Este será um passo decisivo na busca pela vida além do nosso sistema solar”.
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