Apesar de sua grande importância como órgão materno-fetal responsável pela proteção e nutrição do bebê no útero, a placenta está entre os elementos menos estudados do organismo humano. Isso é um problema, tendo em vista que em uma em cada dez gestações, a placenta funciona mal, levando a distúrbios gestacionais, como a restrição do crescimento fetal (RCF), que é quando o crescimento do bebê diminui drasticamente ou, simplesmente, para.
Nem mesmo ferramentas modernas de imagem de ultrassom e novas tecnologias, como o teste de DNA fetal no sangue materno, conseguem prever quais gestações estão em risco de RCF.
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Para ajudar a permitir a detecção precoce do problema e a previsão de gestações de risco, cientistas criaram uma placenta virtual – uma representação do órgão feita em computador – reunindo uma ampla gama de dados clínicos e laboratoriais de gestações que vão bem e aquelas que não evoluem positivamente. As informações são do site Medical Xpress.
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Funções da placenta e representações do órgão para certas civilizações
São várias as funções da placenta. Ela fornece nutrientes e oxigênio do sangue da mãe para o bebê, remove os resíduos do feto na mãe e produz hormônios importantes, responsáveis por adaptar o corpo da mulher à gravidez.
Povos da Nova Zelândia, como os Māori, sempre entenderam seu valor, referindo-se à placenta como o whenua (terra), já que o órgão nutre o bebê como a terra nutre as pessoas.
De acordo com Carolina Ferretti, doula e mentora do parto normal, a ligação que nós, seres humanos, temos com a placenta é muito grande. “Temos como referência as árvores. Em várias civilizações, as árvores, às vezes, são símbolos sagrados. Por exemplo, crianças que vivem em lugares desertos, sem vegetação nenhuma, só areia e céu, se você pede para elas desenharem uma árvore, elas vão desenhar. E a única árvore que essas crianças já viram na vida é a placenta. Se você pega a imagem gráfica de uma placenta na internet, você vai ver que ela realmente parece uma árvore”, disse a profissional em entrevista ao Olhar Digital.
Ela conta que há estudos que capturaram imagens de bebês dentro do útero da mãe escalando o cordão umbilical, como se fosse o tronco e a copa de uma árvore.
“Isso é a representação dessa relação que o ser humano tem com a placenta, que é algo muito forte. Tem civilizações que vão, inclusive, trazer o nome da placenta não como um órgão, mas como se fosse um irmão mais velho. Outras civilizações chamam a placenta de primeira mãe, porque é ela quem proporciona esse primeiro cuidado ao bebê”, explicou.
Fatores que podem afetar o desenvolvimento fetal
Sabe-se que existem alguns fatores importantes, incluindo o fumo, que podem afetar o crescimento de um bebê no útero. Mas os distúrbios da gravidez podem ocorrer em mulheres saudáveis, sem fatores de risco e, em uma cultura em que as mães costumam se culpar instantaneamente, é importante que as mulheres saibam que a restrição de crescimento quase nunca ocorre por causa de algo que elas tenham ou não tenham feito.
Chamada de altura uterina, a maneira mais comum de estimar o crescimento fetal é por uma fita métrica no estômago da mãe, mas a técnica é somente 10% precisa, e menos ainda em pacientes que carregam mais gordura corporal.
A altura uterina é usada para avaliar se o crescimento do bebê intra útero está adequado à idade gestacional. Mede-se desde a pelve até onde ela está alcançando naquele momento. Normalmente, levam-se em conta as semanas de gestação para medir a altura uterina correta, proporcionalmente uma a outra, ou seja, a altura uterina deve estar no mesmo número que as semanas de gestação. Por exemplo: 25 semanas de gestação = 25 cm de AU, 30 semanas de gestação = 30 cm de AU e assim por diante.
Órgãos virtuais para detectar problemas de saúde não são um conceito novo
Quanto mais cedo os médicos souberem que o bebê está em risco, melhor. Enquanto as opções de tratamento são atualmente limitadas, eles podem monitorar a gravidez de maneira mais próxima e tomar decisões mais precisas sobre quando acontecerá o parto.
Mas, isso não é simples, pois a fisiologia da mãe e do bebê podem mudar rapidamente durante a gravidez, e não é aconselhável pedir às grávidas que façam mais exames, ultrassonografias ou procedimentos que possam colocar a gravidez em risco (como o uso de radiação em uma tomografia computadorizada).
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Por essa razão, a placenta virtual é uma excelente aliada, uma vez que permite que seja observada mais de perto a gravidez, sem aumentar o fardo dos exames a que uma mulher grávida precisa se submeter e sem custar muito ao sistema de saúde.
Órgãos virtuais, ou mesmo humanos virtuais, não são um conceito novo. Por várias décadas, cientistas têm combinado o conhecimento anatômico com os princípios da física para prever como as mudanças na anatomia afetam a função dos órgãos.
Testes clínicos virtuais também estão surgindo, nos quais é possível fazer experimentos em um órgão baseado em computador para prever resultados antes que novos tratamentos sejam testados em pessoas reais. Isso reduz os testes em animais e o custo dos testes clínicos.
No próprio campo da ginecologia obstetrícia, modelos simples de gravidez virtual orientaram a interpretação do ultrassom desde o início do uso rotineiro na gravidez, lá na década de 1980.
Placentas virtuais incluem detalhes do fluxo sanguíneo
Conforme dito por Ferretti, a placenta é como uma árvore. Os vasos sanguíneos do bebê estão dentro dos galhos dessa árvore, enquanto o sangue do útero da mãe flui para fora. O modo como o sangue flui em ambas as circulações é fundamental para haver uma boa troca.
Há pouco tempo, a tecnologia permitiu que as placentas virtuais incluíssem os detalhes desse fluxo e troca sanguínea, que não podem ser medidos diretamente. Isso está permitindo que os cientistas façam progressos no sentido de compreender como as características da placenta que restringem o crescimento de um bebê aparecem em imagens como ultrassom ou ressonância magnética.
Encontrar maneiras econômicas de prever e detectar a restrição do crescimento fetal é de grande ajuda para os bebês de crescimento menos desenvolvido. Prever quais gestações estão em risco no início da gravidez é especialmente importante, pois é quando a placenta está crescendo rapidamente e as terapias administradas têm maior probabilidade de reforçar a função placentária. Por exemplo, terapias simples e seguras como a aspirina são eficazes na redução da restrição do crescimento fetal, mas apenas se iniciadas antes das 16 semanas de gravidez.
Como não podemos prever a RCF no início da gestação, muito do que sabemos sobre o crescimento restrito no útero vem de estudos no final da gravidez e da avaliação de placentas após o parto.
Aplicar a compreensão anatômica dos estágios iniciais do desenvolvimento da placenta permite aos médicos, virtualmente, “voltar no tempo” e considerar os contribuintes iniciais para a função placentária deficiente.
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