Na segunda-feira (24), cientistas de Hong Kong relataram o que parece ser o primeiro caso registrado de reinfecção do novo coronavírus. O caso ocorreu com um homem de 33 anos que contraiu a doença em abril, se curou, e foi diagnosticado novamente em agosto.
Em São Paulo, especialistas procuram por algo semelhante. Ao todo, quinze casos são acompanhados para verificar a possibilidade de reinfecção. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP investiga sete indivíduos e o HC de Ribeirão Preto, no interior, verifica oito casos.
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Há duas semanas, uma técnica de enfermagem de Ribeirão Preto, que já havia apresentado sintomas e sido diagnosticada com a Covid-19 em maio, realizou o exame RT-PCR novamente e confirmou a presença do vírus pela segunda vez.
Teste do tipo RT-PCR foi o responsável por diagnnosticar a doença nas duas vezes. Foto: Reuters
Essa constatação levantou uma discussão sobre casos de reinfecção. Isso porque o primeiro teste realizado na profissional, feito assim que os sintomas apareceram, teve resultado negativo. Com a repetição do exame no nono dia, houve a confirmação. No entanto, no décimo dia, os sintomas simplesmente desapareceram. Agora, 38 dias depois, os sinais retornaram. Com uma terceira avaliação do tipo RT-PCR, o resultado foi positivo.
Em entrevista ao Globo, Fernando Bellissimo, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e coordenador do estudo sobre a reinfecção, disse que todos os dados sobre o caso já foram coletados e analisados. O estudo com os resultados das constatações foi enviado a uma revista científica para que sejam validados.
“Imagino que em aproximadamente dez dias a revista nos dê uma resposta. Se passar pelo crivo deles, significa que nossa suspeita de reinfecção foi referendada pela ciência, ou seja, darão crédito à nossa investigação”, diz o pesquisador.
Ainda segundo o professor, no caso de Ribeirão Preto, não foi realizado um sequenciamento genético do vírus para que a análise fosse feita – diferentemente de Hong Kong. Ele explica que as conclusões apontadas no estudo coordenado possuem como base três pilares:
“Pilar epidemiológico, mostrando que a paciente teve contato com pessoas que testaram positivo para Covid; pilar clínico, que significa ter sintomas típicos da doença no intervalo compatível com o período de incubação do vírus; e o pilar dos exames, já que o PCR e a sorologia deram positivo para Covid. O problema é que aqui a gente não costuma guardar as amostras, o que complica a comprovação como o pessoal de Hong Kong fez, mas para mim a prova definitiva é um conjunto de evidências”, finaliza.
Caso de Hong Kong
Pesquisadores da Universidade de Hong Kong confirmaram que um homem 33 anos é o primeiro paciente a ser comprovadamente reinfectado com o vírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19. Um estudo do caso será publicado no jornal especializado Clinical Infectious Diseases.
O homem foi hospitalizado pela primeira vez com sintomas leves da doença em 29 de março deste ano, e teve alta em 14 de abril, depois que os sintomas desapareceram. A segunda infecção foi detectada em 15 de agosto, quando ele retornou a Hong Kong após uma viagem à Espanha com escala no Reino Unido. Apesar de hospitalizado e em observação, o homem permanece assintomático, dizem os pesquisadores.
Estudos anteriores já haviam sugerido que os anticorpos desenvolvidos pelo organismo dos pacientes curados ofereciam apenas proteção temporária contra reinfecção, durando cerca de três meses. O estudo pode ter implicações em estratégias de vacinação da população, ou mesmo em terapias experimentais baseadas na transfusão de plasma, e anticorpos, de pacientes curados.
Via: O Globo