Um estudo do grupo Coalizão Covid-19 Brasil — formado por hospitais e institutos de pesquisa — constatou que 25% dos pacientes intubados por casos graves de Covid-19 morrem em até seis meses após a alta hospitalar. O levantamento também aponta taxa de mortalidade de 2% em internados que não precisaram de ventilação mecânica e diversos relatos de sequelas em pacientes, tanto nos sintomáticos quanto nos assintomáticos.
A pesquisa envolveu 1.006 pacientes com Covid-19 internados no Hospital Israelita Albert Einstein, no HCor, no Hospital Sírio-Libanês, no Hospital Moinhos de Vento, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, no Hospital Beneficência Portuguesa, no Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e na Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet). Eles são monitorados por ligações a cada três, seis, nove e 12 meses após a alta hospitalar.
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Ainda segundo os dados, 17% dos pacientes necessitaram de nova hospitalização e 40% dos intubados tiveram de ser reinternados. Para piorar, as complicações também se alongaram após o fim do tratamento: um em cada cinco pacientes que foram intubados não retornou ao trabalho seis meses após deixar o hospital. O mesmo aconteceu com 5% dos indivíduos que não precisaram de ventilação mecânica.
Segundo Alexandre Biasi, diretor de pesquisa do HCor, o problema não acaba quando o paciente sai do hospital. “Temos agora um contingente de pessoas com sequelas de uma doença aguda que antes não tínhamos na sociedade. Falta de ar, por exemplo, é super comum, mesmo em casos que não eram graves”, diz.

O estudo vai compilar as causas das mortes e os motivos das reinternações, mas os resultados iniciais desmonstram a importância de acompanhar os pacientes após a recuperação. É importante frisar que a responsável pela maior taxa de mortalidade e pelas sequelas após a alta é a gravidade da doença, não a intubação. Ou seja, quem apresentar sintomas de Covid-19 não deve adiar a ida ao médico com medo de ser intubado, já que isso pode agravar o quadro clínico do paciente.
Sequelas da Covid-19
Outro ponto analisado pelos pesquisadores são os efeitos da chamada “síndrome pós-UTI”, observada em paciente mais graves. As sequelas podem envolver casos de fraqueza muscular, redução da capacidade física e outros sintomas.
De acordo com Rogério Dib, fisioterapeuta do Albert Einstein, uma das explicações para a fraqueza muscular é que o paciente diagnosticado com Covid-19 que é intubado recebe um neurobloqueador, uma medicação que “desliga” os músculos. A recuperação depende da gravidade da doença, do tempo de internação e da condição de saúde do doente.
Além dos problemas físicos, os relatos de transtornos mentais após a alta hospitalar chamam a atenção: 22% dos recuperados relatam ansiedade, enquanto 19% alegam depressão e 11%, estresse pós-traumático. O problema se estende a perda de memória, queda da coordenação motora, mudanças comportamentais e emocionais — os chamados efeitos da “Covid longa”. Isso porque o novo coronavírus é capaz de afetar a função executiva do cérebro, já que pode infectar as células nervosas do corpo humano.

Não à toa, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou recentemente a necessidade de garantir a reabilitação dos pacientes recuperados de Covid-19. A boa notícia é que a maioria das sequelas físicas, cognitivas e de saúde mental são transitórias e podem ser tratadas com programas de reabilitação. Isso, entretanto, demandará um esforço contínuo de governos e entidades de saúde do mundo todo.
Via: Folha de S. Paulo