Uma equipe de cientistas decidiu avaliar como funciona a transmissão de uma das cepas mais temidas da Covid-19: a Delta. Como já é sabido, mesmo estando vacinados as pessoas não estão livres de se contaminar com o vírus, já que a vacina adiciona maior proteção contra internações e mortes, ou seja, casos graves da doença.
Assim, o grupo quis estudar o processo de contágio da variante entre pessoas já vacinadas que tiveram ou não Covid-19, principalmente devido o surto da cepa em países como EUA, Reino Unido e Israel – locais onde a vacinação foi rápida, se comparada a outros países.
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“Na Índia, onde a variante Delta se originou, os médicos observaram uma transmissão generalizada entre as pessoas duplamente vacinadas, mas até agora não a investigaram ou documentaram”, disse a professora e coautora do estudo, Maria Zambom, ao Science Museum Group.
O estudo, conduzido pelo Professor Ajit Lalvani, chefe do Departamento de Doenças Infecciosas e Diretor no Instituto Nacional de Pesquisa da Saúde na Faculdade Imperial de Londres – em parceria com a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido – é o maior feito até agora e descobriu que a taxa de pessoas vacinadas e infectadas pela Delta é muito alta, variando pouco quando comparada a pessoas sem proteção.
“Descobrimos que entre os contatos não vacinados nessas famílias a taxa de ataque secundário foi de 38%, ou seja, a proporção de contatos [entre] não vacinados que estão infectados em famílias onde há um índice de primeiro caso de infecção. Em domicílios vacinados [com duas doses], o número ainda era de 25%. Isso é muito alarmante, uma taxa de ataque secundário muito alta, visto que se trata de contatos vacinados”, explicou a cientista.
Para o grupo, isso comprova que estar vacinado, principalmente quando se trata da variante Delta, não é suficiente para não se contaminar ou adoecer – mesmo que com sintomas leves.
Ao ser questionada sobre se isso se aplica à alguma vacina específica – Pfizer ou AstraZeneca – a especialista respondeu que os números da pesquisa não foram suficientes para medir ou encontrar uma diferença neste aspecto entre os imunizantes.
Proteção diminuída, exposição a Delta e transmissão ativa
O estudo revelou também que a proteção induzida pela vacina diminui cerca de três meses após a segunda dose para pessoas que já tiveram Covid-19. Para aquelas que não tiveram, o processo de diminuição começa em dois meses.
“O que isso nos diz é que três meses após a vacinação, em comparação com dois, se tem um risco maior de adquirir Delta se você for exposto”, disse Zambom.
Além disso, a pesquisa constatou que mesmo vacinadas, as pessoas possuem o mesmo grau de transmissão, ou seja, mesmo vacinada – estando infectada – ela pode transmitir o vírus para outra pessoa com a mesma potência de carga viral.
“Isso pode explicar por que a transmissão continua, apesar de tantas pessoas vacinadas. Encontramos uma taxa mais rápida de declínio na carga viral em pessoas vacinadas, o que é bom, mas o problema é que a maior parte da transmissão ocorre antes ou no pico da carga viral.”
A pesquisadora explicou ainda que, embora o objetivo da vacina seja diminuir a carga viral ao mesmo tempo em que aumenta a imunidade, a resposta imunológica, quando recebemos a vacina, não é tão rápida contra o vírus nos primeiros dias, “portanto, não atenua a quantidade máxima de vírus no corpo”, levando alguns dias para atrasar ou reduzir o crescimento da doença.
As vacinas funcionam SIM
A equipe ressalta que o intuito do artigo, publicado na Lancet Infectious Diseases, não é dizer que as vacinas não funcionam, mas alertar para o risco existente mesmo aos vacinados.
“É importante ressaltar que o risco de acabar no hospital ao ser vacinado ainda é baixo, mesmo com o Delta. A mensagem do nosso artigo NÃO é que as vacinas não estejam funcionando – elas estão – mas é provavelmente que são muito menos eficazes na prevenção da transmissão secundária do que o previsto.”
Além disso, o estudo traz, na realidade, também um alerta para pessoas não vacinadas que acreditam que com a vacinação de outras pessoas poderão alcançar um tipo de “imunidade de rebanho”.
“Pessoas não vacinadas não podem contar com a imunidade da população vacinada para proteção. É mais um lembrete dos riscos que correm ao não serem vacinados”, ressaltou a professora.
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A equipe menciona que os dados servem também para ajudar nos próximos passos do combate à Covid, fornecendo suporte importante para as seguintes ações cruciais de saúde pública: vacinar os não vacinados o mais rápido possível; dar reforços a todos aqueles que são elegíveis o mais rápido possível; manter medidas sociais e de saúde pública apesar da vacinação. O reforço vacinal também é sugerido pela equipe.
“Quanto tempo essa proteção de reforço vai durar, não sabemos ao certo, mas pelo nosso conhecimento do sistema imunológico, esperaríamos reforços para uma memória imunológica cada vez mais longa – bem mais de seis meses a um ano.”
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