Dois matemáticos ligados à Universidade de Campinas (Unicamp), o professor do Departamento de Matemática Aplicada Paulo J. S. Silva e pesquisadora Claudia Sagastizábal, montaram uma estimativa do número de vidas salvas no País pelo isolamento social. O modelo, com dados atualizados até o último dia 8, aponta que se o isolamento seguir por mais duas semanas, mais de seis mil vidas podem ser salvas.
Os cálculos dos pesquisadores indicam que, “se mantivermos o isolamento feito na última semana pelas próximas duas semanas”, uma vida pode ser poupada a cada 30 segundos – com números crescentes a cada dia, “enfatizando a necessidade de medidas de mitigação”, como explicam os autores do estudo.
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Para chegar aos dados, Silva e Sagastizábal fazem ajustes do parâmetro da taxa de replicação do vírus SARS-CoV-2 (R0 do modelo SEIR), procurando por variações no tempo. “A ideia é buscar identificar tendências na evolução da taxa de propagação do vírus e consequente aceleração ou desaceleração da epidemia depois do início dos protocolos de distanciamento social que foram implementados a partir de 24 de março”, afirma o site do projeto.
Dados anteriores ao dia 24 de março não são suficientes para fazer a análise – e mesmo dados posteriores sofrem de “clara subnotificação”, o que torna a estimativa também subestimada. “Porém, acreditamos que mesmo assim é possível ter uma ideia da evolução da epidemia e assim ser útil”, avaliam os pesquisadores.
O estudo também individualiza estimativas para alguns estados e regiões. “O distanciamento social parece ter sido efetivo quando consideramos o Brasil inteiro e, após perder um pouco de força há umas semanas, parece ter melhorado levemente recentemente. Cabe destacar que ele tem perdido força no Centro-Oeste e Sul, onde perderam boa parte do ganho obtido inicialmente”, afirma a pesquisa.
Norte e Nordeste, regiões onde em alguns estados o sistema de UTIs está acima da capacidade ou muito próximo disso, “parecem ter entendido a dimensão do problema e passaram a adotar um distanciamento mais efetivo”. Porém, como acontece com outros projetos que dependem de dados oficiais, a desaceleração aparente da transmissão do vírus “pode refletir em parte uma dificuldade para testar os casos e levantar dados”.