O diretor de um complexo hospitalar em João Pessoa (PB) relatou que vários pacientes internados com Covid-19 dizem ter feito uso de medicamentos como azitromicina e hidroxicloroquina como um tipo de “tratamento precoce”. A unidade de saúde ainda recebeu casos de pessoas que tomaram os remédios mesmo sem ter a doença, como forma de prevenção.
Em entrevista ao portal G1, o médico infectologista Fernando Martins Selva Chagas, que trabalha no Complexo Hospitalar Clementino Fraga, contou que os pacientes internados se dizem “surpresos” pelo fato de os medicamentos – que não possuem eficácia comprovada contra a Covid-19 – não terem surtido efeito.
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“Se criou uma imagem que, se começou a doença, tem que tomar azitromicina, ivermectina e hidroxicloroquina para tentar tratar. Por conta dessa informação, que ficou difundida demais, o difícil é a gente desmistificar. E muitas vezes a agente até perde o paciente, ele vai buscar outro especialista”, conta Chagas.
Recentemente, um dos primeiros e mais influentes médicos defensores do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 mudou de ideia. Didier Raoult, microbiologista francês, agora afirma que o emprego do medicamento em nada influi na redução de mortes ocasionadas pela doença.
“As necessidades de oxigenoterapia, a transferência para UTI e o óbito, não diferiram significativamente entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina com ou sem azitromicina e os controles feitos apenas com tratamento padrão”, disse em carta enviada ao Centro Nacional de Informações de Biotecnologia da França.
Falta comprovação
O Complexo Hospitalar Clementino Fraga é referência para tratamento da Covid-19 em João Pessoa, e recebeu até outros profissionais da saúde com a doença. “Um médico veio para o hospital, tinha tomado ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina, complexo de vitamina D e zinco. Ele evoluiu para forma grave [da Covid-19], foi internado. Durante a internação, a gente conversou sobre o fato de os pacientes não responderem [ao tratamento precoce]”, lembra o infectologista.
O consenso médico global é de que não há nenhum medicamento capaz de tratar ou prevenir a infecção pelo novo coronavírus, e, portanto, não existe “tratamento precoce” contra a Covid-19. Por ora, a principal medida de proteção é o isolamento enquanto esperamos as campanhas de vacinação progredirem no país, segundo os médicos. O uso de medicamentos sem prescrição médica pode, inclusive, causar efeitos colaterais graves.
“Eu já atendi pacientes que desenvolveram, por exemplo, pancreatite por causa do abuso de medicamentos, principalmente ivermectina. Pacientes que estavam utilizando ivermectina há meses, desenvolveram Covid e foram para a forma grave. Pacientes com arritmia cardíaca possivelmente por conta da azitromicina e por aí vai”, conta Chagas.
Via: G1
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