Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) encontrou evidências de que a Covid-19 é capaz de reativar um vírus presente nos humanos há milênios. O objetivo do estudo é entender o que leva alguns pacientes graves submetidos à ventilação mecânica a deixarem a UTI enquanto outros não sobrevivem.
Os resultados indicam que a presença do retrovírus endógeno humano da família K (HERV-K) pode estar relacionada à mortalidade da Covid-19 e também ao seu agravamento. Os pesquisadores acompanharam 25 pessoas que necessitaram de ventilação mecânica após agravamentos do coronavírus com idade média de 57 anos.
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Para entender como alguns casos brandos progridem para grave, os cientistas mediram os vírus presentes nas amostras coletadas após a internação. Os pacientes graves tinham níveis altos de HERV-K quando comparados com os exames de pacientes com casos leves e médios. “Verificamos o viroma de uma população com uma altíssima gravidade, em que a taxa de mortalidade chega a 80% para ver se algum outro vírus estava coinfectando esse paciente que está debilitado, imunossuprimido”, explicou o coordenador do estudo Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) à Agência Fiocruz.
Covid-19 pode reativar vírus antigo
“A nossa surpresa foi encontrar esses altos níveis de retrovírus endógeno K. É o tipo de pesquisa que parte de uma abordagem completa não enviesada. Isso dá muita força, muita credibilidade ao achado”, completou ainda. O pesquisador explica que o O HERV-K é um retrovírus endógeno, um vírus ancestral que infectou o genoma humano quando humanos e chimpanzés estavam se dissociando na escala evolutiva.
O que ocorre atualmente é que ainda existem elementos genéticos do HERV-K presente nos cromossomos humanos. A Covid-19 parecer se capaz de reativar essas amostras. O índice de morte em pacientes graves de Covid-19 chega a 50% entre os que apresentam altos níveis do retrovírus. “A gente estabeleceu, de fato, que o Sars-CoV-2 é o gatilho para o aumento desses retrovírus endógenos, para despertar os genes silenciosos”, completou Moreno.
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O estudo da Fiocruz é o primeiro que mostra um aumento relevante do HERV-K em pacientes com coronavírus. Além da Covid-19, outras doenças como o câncer e a esclerose múltipla são capazes de reativar esse retrovírus. Detectar amostras desse patógeno com antecedência pode ajudar no tratamento com o uso de medicamentos específicos, diz ainda o estudo.
“Esse despertar de genes silenciosos é o que pode fazer a diferença das evoluções. Talvez o sinal para o silenciamento de determinados retrovírus endógenos seja mais forte em algumas pessoas do que em outras. Parece estar associada à gravidade essa capacidade do novo coronavírus de mudar o perfil epigenético da célula do hospedeiro, ativando inclusive vírus ancestrais, alguns deles que deveriam estar adormecidos no nosso genoma”, finaliza Moreno.
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