Em 2015, o virologista Gary Kobinger trabalhou com equipe do Laboratório Nacional de Microbiologia do Canadá no desenvolvimento da ZMapp, uma das drogas experimentais utilizadas no tratamento do Ebola. Atualmente ele é o diretor do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas da Université Laval na cidade de Quebec, onde ajudou no desenvolvimento inicial da vacina contra a zika da Inovio Pharmaceuticals em 2017.
Kobinger agora está entre centenas de cientistas que estão trabalhando em potenciais vacinas contra a Covid-19. Em entrevista à Wired, ele contou que mesmo com alguma coordenação governamental e regulatória, “podemos demorar mais de 12 meses para lançar uma vacina” contra o novo coronavírus. “Vai piorar antes de melhorar, mas muitas medidas de controle estão funcionando”, completou.
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O prazo ainda seria menor do que os 18 meses calculados atualmente para o desenvolvimento de uma vacina, mas essa primeira dose não seria global, “talvez para populações-alvo, como profissionais de saúde”. O virologista ainda comparou a situação atual com o trabalho realizado na África Ocidental para conter o Ebola. “Vimos coisas acontecerem – pessoas trabalhando juntas, trabalho realizado – sem precedentes. Espero que estejamos em outro daqueles momentos”, afirma.
O mesmo vale para as dificuldades. “Existe esse otimismo natural das sociedades, em que você acha que o vírus não virá e acaba enfrentando exatamente as mesmas necessidades urgentes de última hora de coisas como EPIs [equipamentos de proteção individual, como máscaras e vestidos]”, diz Kobinger, lembrando que a China sofreu com falta de EPIs em meados de janeiro. “Então você poderia argumentar que deveríamos ter planejado isso. Em vez disso, estamos lutando como se nunca tivéssemos visto isso acontecer”, completa.
O esforço coletivo, de laboratórios de vários países simultaneamente, é um diferencial que pode ajudar no combate a Covid-19. “Teríamos gostado de ter todo esse equipamento sofisticado na África. Mas as pessoas não estavam tão interessadas no que estávamos fazendo”, lembra o virologista.
Com muitas equipes desenvolvendo pesquisas em paralelo, é possível ainda reduzir as chances de gargalos de fabricação. “Com cinco vacinas, talvez pudéssemos fabricar o suficiente para todos no planeta. Mas com apenas um fabricante, acho que não será possível”, avalia Kobinger.
O especialista ainda recomenda cautela em relação aos tratamentos contra a doença – e as esperanças, por vezes falsas, que resultados isolados trazem. “Ao mesmo tempo, é importante ouvir os profissionais de saúde que estão usando esses medicamentos nas linhas de frente. Eles têm uma noção muito boa do que pode valer a pena perseguir e o que não vale”, afirma.
Entre os tratamentos mais promissores, o virologista destaca a transfusão de plasma. “Esta é uma tecnologia antiga, dos anos 1700, e nas clínicas eles são muito bons em gerenciar os efeitos colaterais. Não funcionou muito bem contra o Ebola, porque não conseguimos concentrar o suficiente”, lembra Kobinger.
Porém, o objetivo final é encontrar uma vacina que impeça as pessoas de pegar o vírus. “Às vezes, os pacientes que recebem o medicamento sofrem danos nos pulmões que não são reparáveis. E mesmo que o vírus recue, ele pode voltar a piorar mais tarde. Em 1918, a gripe espanhola na primavera foi uma onda muito leve e, depois, voltou com força total no outono”, alerta o especialista.
Via: Wired