O cineasta Quentin Tarantino se envolveu em um amplo debate com o famoso apresentador e comediante Joe Rogan em um episódio do podcast ‘Joe Rogan Experience‘ lançado na terça-feira (29), no qual ele abordou várias das controvérsias de sua carreira.
O diretor e roteirista vencedor do Oscar abordou o anúncio de aposentadoria após seu próximo filme, a luta de Bruce Lee em ‘Era uma Vez em… Hollywood’ e a violência no cinema contra personagens femininas, bem como sua história com o produtor Harvey Weinstein, entre muitos outros tópicos destacados abaixo.
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- Sobre as críticas à personagem de Jennifer Jason Leigh, Daisy Domergue, sendo repetidamente espancada por John Ruth de Kurt Russell em ‘Os Oito Odiados’
Quentin Tarantino: “Isso é besteira. Não há nada que acontece a ela que não pudesse ter acontecido a um homem na mesma situação. Se, em vez de Daisy Domergue, fosse Big Bill Shelly [o ladrão de trem no filme ‘Sexy e Marginal’ (1972), interpretado por David Carradine], um homem que pesa 100 quilos e tem uma grande barba, você não pensaria merda sobre Kurt Russell batendo nele o tempo todo. Bem, eu estou fazendo isso acontecer com uma garota, que é tão ruim quanto Big Bill Shelly, porque eu não estou escolhendo favoritos, caralho. Isso torna um pouco mais difícil de assistir, mas eu concordo que é um pouco mais difícil de assistir – bom, é uma porra de um filme difícil. É para doer. É como quando uma família negra é morta pela gangue de Daisy; vítimas negras machuca mais [o espectador]. Bom, é para doer”.
- Sobre o ataque brutal do personagem de Brad Pitt, Cliff Booth, aos assassinos membros da Família Manson, incluindo Susan Atkins (Mikey Madison) e Patricia Krenwinkel (Madisen Beaty) em ‘Era uma Vez em… Hollywood’:
Rogan apontou que outros cineastas não teriam conseguido se safar [“do cancelamento”] com essa cena hoje em dia e que a história de Tarantino como um cineasta aclamado e bem-sucedido permitiu que ele ganhasse “perdão”. O diretor respondeu: “Estamos falando de três dos mais sangrentos e violentos assassinos do século XX. Suas próprias loucuras receberam [como forma de perdão] seus rostos sendo esmagados”.
- Na luta de Bruce Lee em ‘Era uma Vez em… Hollywood’, na qual Tarantino foi criticado por retratar a lenda das artes marciais como um fanfarrão que é derrotado por Booth:
Rogan apontou ao cineasta que “muitas pessoas pensaram que você transformou Bruce Lee em um idiota”. Tarantino, então, respondeu: “Posso entender que a filha dele tenha um problema com isso, é a porra do pai dela, eu entendo. Mas qualquer outra pessoa [pode] ‘chupar um pau’. Se você olhar para isso, é óbvio que Cliff o enganou, é assim que ele foi capaz de [vencê-lo], algo que explico um pouco mais no livro“, comentou de forma bem-humorada o diretor, que ainda detalhou que na disputa de “melhor de três” na cena em questão, Cliff deixou Lee ganhar o primeiro round para ver qual movimento ele usaria, e então antecipou que o lutador usaria o mesmo movimento na segunda vez, algo que fez com que ele tivesse sucesso no contra-ataque.
“Bruce não tinha nada além de desrespeito em relação aos dublês americanos e estava sempre batendo neles com os pés e os punhos, e isso chegou ao ponto em que eles se recusaram a trabalhar com ele”, revelou Tarantino, que afirmou se basear em relatos verídicos. “Cliff é um matador de combate, ele lutou na Segunda Guerra Mundial. Se Cliff lutasse com Bruce Lee em uma competição de artes marciais no Madison Square Garden, Cliff não teria chance. Mas, como um assassino que matou homens na selva, ele o mataria”.
- Sobre Harvey Weinstein, que produziu a maioria dos filmes de Tarantino e foi condenado a 23 anos de prisão em 2020 depois de ser considerado culpado de estupro e agressão sexual:
O diretor afirmou que um certo grau do comportamento do produtor era conhecido por todos – incluindo os principais atores que trabalharam com ele, mas disse que a situação de Weinstein o deixou “triste” e que considerava o produtor uma “figura paterna”. “Eu gostaria de ter conversado com ele. Eu gostaria de tê-lo sentado e tido uma conversa bem desagradável. Eu não sabia sobre nenhum estupro ou algo parecido, mas eu sabia que ele estava [fazendo algo de errado]. Ele estava fazendo avanços indesejados. [Porém], é assim que eu vejo as coisas, eu gostaria de ter conversado com ele e dito: ‘Harvey, você não pode fazer isso, você vai estragar tudo’. Não acho que alguém tenha falado com ele sobre isso. E o problema é que todo mundo que estava em sua volta sabia. Eles não sabiam de nenhum estupro, claro, mas eles tinham ouvido coisas.”
- Sobre o anúncio de sua aposentadoria após seu próximo, ainda não anunciado, décimo e último filme
Quentin Tarantino: “Todos vocês conhecem atores, bandas, cantores, caras do esporte que vocês amavam e quando eles faziam algo novo era emocionante e especial. E então, em um determinado ponto, não é mais emocionante ou especial. Isso não significa que eles não têm valor, mas simplesmente não é a emoção de quando “blá-blá-blá” teve um novo filme ou álbum sendo lançado. Quero me aposentar (…) e deixar você querendo mais. Eu não quero que seja como, ‘esqueça a merda que ele está fazendo agora e lembre do dia em que ele…’”
Rogan rebateu o cineasta, afirmando que ele “está no auge”, ao que Tarantino respondeu:“ Por isso é o momento perfeito”. Antes do término da entrevista, o diretor acrescentou que planeja continuar escrevendo para vários projetos durante sua aposentadoria. “Espero fazer mais dois livros e uma peça, e depois veremos o que eu serei [no futuro]. Eu quero fazer ‘Os Oito Odiados’ no palco e quero fazer ‘Cães de Aluguel’ no palco”.
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Fonte: The Hollywood Reporter (THR)
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