Um dos maiores projetos de vigilância genômica da América Latina descobriu que a variante gama da Covid-19, que surgiu em Manaus e antes denominada P1, agora tem uma versão “turbinada”, podendo ser ainda mais transmissível, batizada de gama-plus.
O vírus conta com uma alteração genética em uma região que condiciona a velocidade com que o vírus entra nas nossas células. Inclusive, Essa mutação a variante delta também carrega, embora não seja uma descrição científica, pode se dizer que a variante seria um mestiço de gama com delta.
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Os cientistas descobriram a gama-plus ao analisar 502 amostras colhidas em maio de brasileiros infectados pela Covid-19. Essas alterações foram encontradas em cinco amostras de Goiás; em duas do Tocantins; em uma de Mato Grosso, uma do Ceará, uma de Santa Catarina, uma do Paraná e uma do Rio de Janeiro.
O que é a gama-plus
“Se você pegar a proteína S do Sars-CoV-1 do passado, que causou a epidemia na China em 2002, ela demorava para se quebrar”, explica biólogo molecular e virologista José Eduardo Levi, que lidera a área de desenvolvimento e pesquisa da Dasa, rede de saúde integrada que criou o Genov.
No vírus da atual pandemia, essa quebra no vírus original de Wuhan já era bem mais rápida. “É curioso isso: uma mutação pontual do vírus, mas que leva a uma discussão gigantesca”, reflete Levi, pois o domínio da Covid-19 que interage com a proteína humana é o principal argumento da turma que diz que o causador teria sido criado em laboratório.
Segundo Levi, a evolução do coronavírus tem sido tão rápida e precisa que tudo sugere que um ancestral dele já estava indo por esse caminho, ou seja, o Sars-CoV-2 acabaria se desdobrando.
O vírus no Brasil
Com a taxa de transmissão no Brasil,é facilitado o trabalho do vírus em evoluir para se tornar imbatível. “O que mais impressiona os virologistas em relação ao vírus é sua altíssima taxa de convergência”, diz Levi. É esse conceito que explica por que uma mutação de delta aparece na conhecida cepa de Manaus ou gama, transformando-a na versão “plus”. Da mesma forma como a mutação que estava na alfa britânica apareceu na delta indiana.
“Atenção: não foi porque um vírus saiu de um país para o outro, nem os dois se encontraram nas ruas e fizeram uma troca de informações genéticas, tornando-se recombinantes”, esclarece Levi. A convergência é quando mutações semelhantes pipocam simultaneamente em cantos do globo distantes entre si. É como se os vírus, brinco eu, se comunicassem por telepatia, informando uns aos outros aquilo que parece lhes conferir uma vantagem evolutiva. Mas, claro, não existe vírus telepata.
Além disso, o ambiente pode até estabelecer a prioridade do vírus em matéria de evolução. Mas, no final das contas, o que dá certo em um lugar tende a aparecer em outro depois, no fenômeno da convergência.
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O perigo da gama-plus
A gama-plus ameaça correr solta e preocupa diante de um cenário em que apenas 22,5% dos brasileiros estão totalmente vacinados, com duas doses ou a dose única. Com o vírus entrando mais depressa nas células, pode aumentar a carga viral da cepa gama, que já era impressionante. Assim, devem se multiplicar as oportunidades de ela criar mutações diariamente.
“Em suma, quem não tomou a segunda dose dá mais chance ao vírus para aprender a escapar das defesas do quem quem ainda não foi vacinado”, informa Levi.
Um detalhe já chama atenção: apesar de avançar, delta não está crescendo entre nós na mesma velocidade observada nos Estados Unidos e no Reino Unido. Uma pista de que gama já não está entregando o seu território com facilidade. E não será gama-plus que irá ceder. Mas, para nós, isso não representa exatamente uma boa notícia.
Fonte: UOL
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