Depois de apresentar a Butanvac na manhã de sexta-feira (26) como uma tecnologia totalmente nacional, o Instituto Butantan teve de explicar que a ideia foi desenvolvida no ano passado por pesquisadores do Instituto Mount Sinai, de Nova York. Cientistas da Escola de Medicina Icahn publicaram pelo menos três estudos sobre a técnica. Nenhum deles tem participação de autores brasileiros.
Ao anunciar a novidade, João Doria, governador do Estado de São Paulo, disse que a Butanvac “é a primeira vacina 100% nacional, integralmente desenvolvida e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan”. E foi aí que se deu a confusão, já que o conceito foi desenvolvido no instituto americano.
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Por isso, o Butantan passou a ser questionado sobre a relação entre a Butanvac e os trabalhos desenvolvidos no Instituto Mount Sinai. Em nota, a instituição esclareceu que “firmou parceria e tem a licença de uso e exploração de parte da tecnologia, que foi desenvolvida pela Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai de Nova York, para obter o vírus”.
À Folha de S. Paulo, o virologista Peter Palese, principal pesquisador do estudo do Instituto Mount Sinai, disse que fez experimentos com a vacina que usa o conceito e iniciou testes de fase 1 no Vietnã e na Tailândia – os mesmos países com os quais o Instituto Butantan se associou para testar e produzir a Butanvac. Além disso, o cientista informou que tinha um acordo com a instituição brasileira para fazer testes clínicos do imunizante por aqui. Já o Butantan diz que fez testes pré-clínicos com a substância e obteve resultados animadores.
Desenvolvimento nacional
Embora a entidade paulista diga que começou o desenvolvimento da Butanvac há um ano, em 27 de março de 2020, um levantamento do ministério da Saúde, feito no fim do ano passado, não mostra um produto com a tecnologia usada pela Butanvac entre os pesquisados pelo Butantan. Em novembro de 2020, três vacinas estavam em desenvolvimento na entidade: a Coronavac, uma fórmula que usa partículas similares a vírus (VLP) e um imunizante com tecnologia de vesículas de membrana externa em plataforma de múltiplos antígenos.
Segundo o instituto, o uso da tecnologia é livre do pagamento de royalties e sua adoção para o desenvolvimento de um imunizante brasileiro tem o “objetivo de acelerar o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus“. O Butantan ressalta que “comunicados conjuntos serão feitos pelos integrantes do consórcio no momento oportuno”.
A instituição afirma, ainda, que algumas etapas da criação do imunizante usam técnicas desenvolvidas pelo instituto, como a multiplicação do vírus, as condições de cultivo, os ingredientes, a adaptação aos ovos, a conservação, a purificação, a inativação do vírus, o escalonamento de doses, e os estudos clínicos e regulatórios.
Fonte: Folha de S.Paulo