Nos últimos dias, a notícia de que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou paralisar uso da vacina AstraZeneca da Universidade de Oxford, em grávidas repercutiu por conta da ausência de maiores orientações.
As autoridades da saúde de estados e municípios brasileiros suspenderam o uso desse imunizante específico nas gestantes e nas puérperas (as que deram à luz há menos de dois meses). Em locais como o Rio de Janeiro, nem as vacinas CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) e Cominarty (Pfizer/BioNTech) poderão ser aplicadas nas mulheres grávidas, por enquanto.
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Em coletiva na última terça-feira (11), o Ministério da Saúde anunciou a interrupção da vacinação contra a Covid-19 em gestantes e puérperas, nisso, apenas a imunização com doses da Coronavac e da Pfizer seria mantida para quem têm comorbidades.
De acordo com os dados apresentados, 22.295 gestantes já foram vacinadas no país. Ao todo, foram relatados 11 adversidades graves nestas mulheres e entre eles está o incidente da gestante do Rio de Janeiro que faleceu e motivou a interrupção temporária.
A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Franciele Francinato, explicou que os dados mostram que a vacina da Astrazeneca é em geral eficaz e segura. “Destaco aqui que é por que aconteceu esse evento raro, é uma cautela que o Programa Nacional de Imunizações tem, até fechamento do caso”, disse sobre o óbito no Rio de Janeiro.
Cientistas e médicas criticaram a decisão dos governos e alegaram a situação como “catastrófica”. “É muito fácil suspender uma vacina diante de um primeiro evento supostamente adverso e não pensar nas repercussões que essa medida vai ter sem uma campanha de esclarecimento, sem oferecer de imediato uma alternativa que já poderia ter sido planejada desde o começo”, argumentou a ginecologista e obstetra Melania Amorim, que também é professora da Universidade Federal de Campina Grande.
Representando o mesmo ponto de vista, a especialista em políticas públicas de saúde Michelle Fernandez estimou que “essa paralisação é inadmissível, de cada dez mulheres grávidas que morrem por Covid-19 no mundo, oito são brasileiras.”
As autoridades de saúde ouvidas pela BBC avaliam que tudo poderia ter sido evitado caso o Ministério da Saúde tivesse tomado as precauções necessárias e feito uma campanha de comunicação. No início, o governo não incluía as gestantes e as puérperas no grupo de risco prioritário para tomar a vacina. Somente em abril que a decisão foi alterada por conta das evidências de que o risco de agravamento seria maior.
A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, destacou que logo no começo poderia ter indicado o uso apenas da CoronaVac ou da Pfizer para esse grupo: “A chegada das primeiras 1 milhão de doses da vacina de Pfizer/BioNTech aconteceu no mesmo momento em que as grávidas foram incluídas no programa de imunização brasileiro. Esse lote deveria ter sido totalmente direcionado para essas mulheres.”
O risco levado em conta
O uso da vacina de AstraZeneca e Oxford está relacionada ao efeito colateral raríssimo que é a trombose trombocitopênica. Em síntese, o imunizante pode levar a uma reação que altera o sistema de coagulação do sangue e assim, favorece o surgimento de trombos. O risco de desenvolver trombose em uma complicação de Covid-19 é de 16,5%, ou seja, é 41 mil vezes maior.
Pelo risco ser mínimo e o caso do Rio de Janeiro não ter sido confirmado se é relacionada diretamente ao imunizante que se faz necessário ter em mente que a própria gestação acaba favorecendo o aparecimento de tromboses.
“As pessoas precisam entender que nem tudo que acontece após a vacinação é causado pela vacinação”, esclareceu a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Além disso, os testes clínicos de base para a aprovação das vacinas costumam não incluir grávidas entre os voluntários.
“Quando a vacina já está aprovada e em uso, acontece de gestantes serem vacinadas inadvertidamente. Esses casos são notificados e acompanhados pelas autoridades sanitárias, que observam o aparecimento de eventos adversos ou não”, contou Ballalai.
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O que fazer?
Desde que a notícia foi dada na coletiva, diversas pessoas ficaram preocupadas e sem saber o que fazer. Os representantes do Ministério da Saúde afirmaram que logo será publicada uma nota técnica com orientações mais detalhadas.
“É importante que a gestante que foi vacinada fique atenta aos sintomas e procure o serviço de saúde se estiver com incômodos cerebrais ou abdominais, como dor persistente”, orientou Amorim.
Isso porque os sintomas costumam aparecer entre 3 e 21 dias após a vacinação, sendo assim, não devem ser confundidos com a reação normal do organismo, como dor no local da aplicação e febre baixa. É importante manter a calma e conversar com um profissional de saúde que já está acompanhando a gestação.
Fonte: BBC News
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