Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA), em parceria com cientistas do Instituto de Saúde Infantil e do Centro de Pesquisas Biomédicas do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde (duas entidades administradas pelo Hospital Great Ormond Street, no Reino Unido) conduziram um estudo para descobrir se um feto pode ser contaminado com Covid-19 dentro do útero.
Até o momento, de acordo com um artigo da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, há alguns raros casos de bebês que tiveram Covid-19 confirmada no nascimento, levantando a suspeita sobre a possibilidade de transmissão do coronavírus da mãe para o feto. Em todos os casos observados, os bebês desenvolveram apenas um quadro leve da doença e nenhum teve sequelas.
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No entanto, não é possível afirmar com segurança que a transmissão ocorreu realmente durante a gestação, e não por outros meios, como o contato próximo com indivíduos infectados na sala de parto, por exemplo.
Então, diversos estudos nacionais e internacionais vêm tentando entender como bebês recém-nascidos poderiam ter desenvolvido anticorpos contra Covid-19, conforme relatado nesse pequeno número de casos registrados em todo o globo.
A pesquisa da UCL em parceria com o Hospital Great Ormond Street, no Reino Unido está entre as mais recentes sobre o assunto, tendo sido publicada no início deste mês no BJOG – An International Journal of Obstetrics & Gynecology.
Embora esse estudo não tenha examinado especificamente mães com Covid-19 e se sua infecção foi transmitida a um feto, foi descoberto que certos órgãos fetais, como o intestino, são mais suscetíveis à infecção do que outros. Essa e outras descobertas foram alcançadas por meio de uma série de técnicas diferentes, como a investigação de expressão de genes e proteínas.
Placenta atua como escudo protetor do feto
Segundo os pesquisadores, as oportunidades para o vírus Covid-19 infectar o feto são extremamente limitadas, já que a placenta atua como um escudo protetor altamente eficaz, e as evidências sugerem que a infecção fetal da doença, conhecida como transmissão vertical, é extremamente incomum.
Os cientistas examinaram vários órgãos fetais e tecido da placenta para verificar se havia qualquer presença de dois receptores específicos de proteínas da superfície celular: o ACE2 e TMPRSS2. Esses dois receptores ficam do lado de fora das células e ambos são necessários para que o vírus SARS-Cov-2 infecte e se espalhe no organismo.
Foi detectado que os únicos órgãos fetais a apresentar tanto o ACE2 quanto o TMPRSS2 são os intestinos e o rim. Como o rim fetal é anatomicamente protegido da exposição ao vírus, esse órgão apresenta menor risco de infecção.
Assim, a equipe concluiu que o coronavírus SARS-CoV-2 só poderia atingir o feto pelo intestino e por meio da deglutição fetal de líquido amniótico, o que o feto faz naturalmente para obter nutrientes.
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Intestino e pulmão seriam as principais vias de infecção por Covid-19
Após o nascimento, os receptores ACE2 e TMPRSS2 são conhecidos por estarem presentes em combinação na superfície das células no intestino humano, bem como no pulmão.
Suspeita-se que o intestino e o pulmão sejam as principais vias de contaminação por Covid-19, mas em crianças menores, o intestino parece ser o mais importante para infecções por vírus.
“Sabe-se que o feto começa a engolir o líquido amniótico na segunda metade da gravidez. Para causar infecção, o vírus SARS-CoV-2 precisa estar presente em quantidades significativas no líquido amniótico ao redor do feto”, disse o autor sênior do estudo, Mattia Gerli, que faz parte da divisão de Cirurgia e Ciência Intervencionista da UCL. “No entanto, muitos estudos em assistência à maternidade descobriram que o líquido amniótico ao redor do feto geralmente não contém o vírus SARS-CoV2, mesmo se a mãe estiver infectada com Covid-19”.
Ele explicou que os resultados de sua pesquisa, portanto, revelam que a infecção clínica do feto durante a gravidez “é possível, mas incomum – o que é tranquilizador para os futuros pais”.
“Nós mostramos que o intestino fetal, que está em contato com fluidos amnióticos engolidos pelo bebê, é suscetível a Vírus SARS-CoV-2. No entanto, a placenta atua como uma barreira natural, e com a evidência limitada de líquido amniótico contendo o vírus, nosso estudo deve fornecer garantias às mães”, disse Paolo De Coppi, médico do Hospital Great Ormond Street, coautor do estudo.
Essas conclusões, embora positivas, não anulam o fato de que, sim, mulheres grávidas que sejam infectadas pela Covid-19 podem ter problemas com suas gestações e, consequentemente, com seus bebês.
Os autores destacam que o maior risco para o feto durante a gravidez é se a mãe ficar muito indisposta com a infecção por Covid-19. Nesse caso, o vírus pode estar presente em alta concentração no líquido amniótico. “Além disso, pode danificar a placenta, o que pode levar ao nascimento prematuro”, explicam.
Vacinação é fundamental
De acordo com a professora da UCL Anna David, que também é coautora da pesquisa, “a vacinação contra Covid-19 é conhecida por ser segura na gravidez e reduz a chance de infecção por Sars-CoV2 a níveis muito baixos”.
“Nossas descobertas apoiam a política de saúde atual de que a vacinação durante a gravidez é a melhor maneira para as mães protegerem seu feto da infecção por Covid-19”. afirma a pesquisadora.
Segundo a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), o estudo, financiado pelo Conselho de Pesquisa Médica (MRC) e pela iniciativa de resposta rápida UKRI COVID-19, fornece as informações mais definitivas, até o momento, sobre a suscetibilidade do feto humano à infecção por Covid-19.
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