Na quinta-feira (4), o governo italiano bloqueou a exportação de um lote de 250 mil doses de vacina Covishield, desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. As doses foram produzidas para a Austrália em uma fábrica da farmacêutica na Itália.
O motivo, segundo o país europeu, é que a Austrália não consta na lista de países vulneráveis. Além disso, a Itália — bem como todo o bloco europeu — passa por um momento de escassez de imunizantes contra a Covid-19. Com a decisão, a Itália tornou-se o primeiro país da União Europeia (UE) a interromper a exportação de vacinas fabricadas em seu território.
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A verdade, porém, é que a AstraZeneca é um dos principais personagens por trás dessa restrição. Isso porque a companhia diz que, no primeiro trimestre de 2021, vai entregar somente 40% — em torno de 40 milhões — das vacinas contra a Covid-19 prometidas para a UE. O motivo? O laboratório diz que enfrenta dificuldades de produção.
A notícia não foi bem recebida pelos países do bloco, ainda mais porque a UE tem sido criticada pela lentidão na vacinação. Tanto que, em janeiro deste ano, o então primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte enquadrou como inaceitáveis os atrasos no fornecimento de vacinas pela AstraZeneca e pela Pfizer e acusou as empresas de violarem seus contratos.
Como resultado dessa briga entre os países da UE e a AstraZeneca, o bloco europeu anunciou, em 30 de janeiro, uma medida que controla as exportações de vacinas contra a Covid-19 se as fornecedoras não cumprirem as obrigações assumidas localmente. Como a Itália encarou que o lote de 250 mil doses destinado à Austrália era grande em comparação com as quantidades fornecidas para a Europa, resolveu impedir o envio.
Austrália pede revisão do bloqueio
Em resposta ao bloqueio do lote de vacinas da AstraZeneca, a Austrália pediu, nesta sexta-feira (5), que a Comissão Europeia revise o impedimento italiano. “Abordamos o assunto com a Comissão Europeia em múltiplos canais. Pedimos, especialmente, que revise essa decisão”, afirma Greg Hunt, ministro da Saúde australiano.
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, diz que compreende o bloqueio italiano, tendo em vista a situação vivida no país europeu. “Na Itália, as pessoas estão morrendo a uma taxa de 300 por dia, então eu certamente consigo entender o alto nível de ansiedade existente em muitos países da Europa.”
Enquanto a Austrália soma 29 mil casos de Covid-19 e registra 909 mortes, a Itália contabiliza quase 3 milhões de casos de infecção pelo novo coronavírus, com 98.974 mortes. Essa disputa pode ser apenas uma prévia do que pode acontecer em um cenário global de escassez de vacinas.