A epidemia do novo coronavírus já adiou grandes eventos, forçou empresas de tecnologia a anunciarem novos produtos em conferências online e ainda deve atrasar a chegada de dispositivos ao mercado – vide o iPhone 9, da Apple.
Mas, além de todos essas consequências, o surto ainda impacta o regime de trabalho dos funcionários das companhias. A Alphabet enviou nesta semana um e-mail a todos os seus colaboradores da América do Norte para que trabalhem de casa. É estimado que a empresa-mãe do Google tenha mais de 11 mil empregados na região.
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Em situações como esta, soluções tecnológicas para o trabalho remoto garantem a continuidade das operações das empresas, enquanto diminuem as chances dos funcionários adoecerem.
Contudo, como observa a professora da Boston University, Joelle Renstrom, em coluna à CNN este quadro pode provocar mudanças irreversíveis na confiança das pessoas sobre a tecnologia e a proeminência do trabalho remoto no universo corporativo.
Segundo a professora, a epidemia de coronavírus já acelerou a adoção de tecnologias intermediárias em substituição a experiências físicas. O que acontece é que quanto mais usamos as tecnologias, mais confiamos nela e mais difícil se torna retomar hábitos anteriores.
Uma vez que as companhias começam a optar pelo trabalho remoto, elas vão avaliar os benefícios deste regime. As cobranças de energia elétrica diminuem e trabalhadores param o serviço com menos frequência, o que teoricamente pode aumentar a produção. O palpite de Renstrom é que ao detectar tais vantagens no curto-prazo algumas empresas podem adotar a prática, mesmo após o surto do novo coronavírus.
Apesar disso, a aderência ao home office não é um fenômeno inédito. Uma pesquisa global do International Workplace Group, de 2016, aponta que 70% das pessoas trabalham remotamente pelo menos uma vez na semana e até 11% quase nunca vão ao escritório.
Vale pontuar que esses números contrastam severamente com os do Brasil. Um estudo do IBGE indicou que, em 2018, apenas 5,2% dos brasileiros empregados trabalhavam em regime home office na época.
Riscos de trabalhar em casa
Por outro lado, o trabalho remoto pode confundir as fronteiras da relação serviço e vida pessoal, levando os funcionários a trabalhar por mais horas em detrimento de tempo dedicado a família e amigos. Além disso, a dependência da mediação tecnológica e falta de uma comunicação face a face pode levar a consequências na produtividade e relações pessoais dos empregadores.
Nesse sentido, Renstrom cita o livro “Reclaiming Conversation: The Power of Talk in Digital Age, da professora Sherry Turkle, vinculada ao Programa de estudos de Ciência e Tecnologia do MIT. A obra diz que ao passo que os humanos se apoiam nas mediações tecnológicas “esquecemos como conversações face a face são essenciais para nossos relacionamentos, criativa e capacidade de empatia”.
Para a professora, o desafio no futuro será lutar pelo equilíbrio entre nossas conexões e experiências face a face. Mantendo as qualidade do desenvolvimento tecnologia, no entanto, com uma clara separação entre os humanos e as máquinas. “Empatia e a necessidade de nos conectarmos emocionalmente e psicologicamente com os outros vão exigir esforços”, afirma Renstrom.
Fonte: CNN