As autoridades de saúde estão alertando para os riscos do tratamento precoce contra a Covid-19. O “kit Covid” envolve uma série de medicamentos, incluindo antibióticos, que supostamente ajudariam no tratamento contra a doença. Mas o uso indiscriminado desses remédios pode ser ainda mais prejudicial do que a doença.
De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, além da falta de eficácia comprovada, a Ivermectina prejudica o tratamento da doença pois causa uma falsa sensação de segurança, mas pode provocar “hepatite medicamentosa que te leva à UTI em 48 horas”, alerta Egberto Feitosa, representante do Ceará no órgão.
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Um dos problemas causados pela aplicação do “Kit covid” é justamente a demora para procurar atendimento médico, já que muitos pacientes acham que já estão fazendo tratamento com a “automedicação”, então só vão ao hospital quando o caso já é bastante grave e o pulmão está lesionado pela dificuldade em respirar, o que acaba complicando a intubação.
“A gente vê com bastante preocupação qualquer uso indevido de medicamentos, especialmente agora na época da pandemia”, ressalta Feitosa. De acordo com o farmacêutico para o conselho, por mais que a Ivermectina, assim como a Cloroquina e a Azitromicina sejam remédios tarjados, que exigem receita, muitos compram e consomem de forma indiscriminada na esperança de eficácia contra a Covid-19.
“E mais preocupante do que isso é o que essas medicações fazem de efeito colateral indireto. Por pessoas que usam achando que elas protegem da infecção e, por causa disso, deixam de fazer os cuidados que realmente são protetores como distanciamento e uso da máscara ou por pessoas que estão com a doença e que estão tomando o remédio achando que estão se tratando quando, na verdade, não estão”, disse também Keny Colares, infectologista e consultor da Escola Pública de Saúde do Ceará (ESP-CE).
De acordo com dados divulgados pelo conselho, desde o começo da pandemia, a procura por Ivermectina nas farmácias cresceu 557%. Já as vendas de Hidroxicloroquina, outro pseudo tratamento contra a doença, aumentaram 113%.
A conselheira nacional de Saúde, Débora Melecchi, coordenadora da Comissão Internacional de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica (Cictaf) do CNS, disse para o CFF que não há no momento evidência científica de que esses medicamentos são eficientes no combate ao vírus.
“Ao contrário disso, existem estudos comprovando que a cloroquina, a ivermectina e a azitromicina são completamente ineficazes para o tratamento da Covid-19, precoce ou em si”, disse.
“Kit covid” e o aumento das mores
Em reportagem da BBC News Brasil, diretores de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) relataram que o tratamento precoce pode contribuir para o aumento de mortes de pacientes graves que estão internados nessas unidades de saúde.
Os especialistas explicam que entre 80 e 85% das pessoas que contraem a Covid-19 não vão desenvolver a forma grave para a doença, e o “Kit covid” provavelmente não vai fazer diferença para esse público. O problema são os 15% que vão precisar de internação. Nesse grupo, os efeitos colaterais do excesso de remédios combinados com os sintomas da Covid-19 pode aumentar a taxa de morte.
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O Estadão também mostrou que o uso indiscriminado desses medicamentos pode causar problemas renais e hepatite. Médicos relataram para o jornal casos de pacientes que desenvolveram doenças por conta do uso do Kit Covid.
Valmir Crestani Filho, do Hospital das Clínicas da USP, contou sobre o caso de um interno que ficou com fortes dores abdominais de diarreia após consumir Azitromicina. Em outro caso, um paciente contraiu uma rara doença por conta do consumo de Omeprazol.
“A partir do momento que essas medicações passam a ser usadas por milhões de pessoas, esses efeitos, mesmo que raros, começam a aparecer com mais frequência. Quando a gente prescreve um medicamento é porque os benefícios são maiores que os riscos. Se esses remédios não têm nenhum benefício contra a covid-19, todo efeito colateral foi em vão”, disse Crestani para o jornal sobre o “Kit covid”.
Imagem: Sergio Yoneda (iStock)
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