Pesquisadores e médicos que se dedicam a estudar a ainda pouco conhecida Covid-19 afirmam já saber que, em alguns pacientes, alguns sintomas persistem meses depois da doença. Um estudo publicado recentemente por cientistas americanos das universidades da Califórnia, Indiana e Miami e da Clínica Mayo foi feito com 1.407 californianos que receberam resultado positivo para o vírus. Trata-se da maior pesquisa feita até agora com pacientes com sintomas leves da doença – 32% deles foram assintomáticos.
Os cientistas afirmam que 27% dos entrevistados continuaram com sintomas depois de 60 dias do resultado positivo. As principais reclamações foram falta de ar, tosse, dor no peito, dor no corpo, diarreia, ansiedade, transtorno de humor, fadiga e problema de memória. O infectologista Rodrigo Molina concorda com a pesquisa. “Já sabemos que podem acontecer tanto manifestações persistentes como manifestações tardias com qualquer pessoa que teve a doença”, afirma.
publicidade
Segundo o médico, a maioria dos pacientes se queixa de tosse persistente e perda de olfato por meses. “Não é raro encontrar pacientes que relatam fadiga até para atividades rotineiras”, completa. Molina acrescenta também a melancolia como manifestação tardia da doença, atribuída ao estresse pós-traumático.
Os cientistas estudam agora as reações inflamatórias do organismo disparadas pelo vírus para evitar os sintomas tardios. Segundo eles, a “tempestade de citocinas” desencadeada pela doença faz que estas moléculas inflamatórias inundem o organismo. Mesmo quando o vírus é eliminado, elas citocinas continuam encharcando os pulmões de líquido, causando inflamações e fibroses.
Tratamento para aliviar sintomas
Assim como para a doença, não existe remédio para sintomas tardios. Por isso as manifestações persistentes criaram novas demandas para médicos e profissionais de saúde, que lutam para organizar estratégias. O fenômeno levou o Hospital Foch, na França, a criar um setor especializado em atender pacientes que convivem com sequelas da doença.
Segundo Nicolas Barizien, chefe da Unidade de Reeducação do Hospital, os primeiros casos começaram a aparecer após o fim do primeiro lockdown, em maio de 2020 – pacientes que tiveram versões leves da Covid-19 procuraram o médico relatando retorno de sintomas. “Os pacientes têm um impacto real em sua qualidade de vida com sintomas que os tornam incapazes de levar uma vida normal “, diz.
O Hospital criou uma clínica de reabilitação com médicos, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas para atender estes pacientes e o tratamento, por enquanto, é sintomático para aliviar o cotidiano. Para os médicos, trata-se de uma convalescência longa que pode ocorrer em outras doenças.
A já chamada Síndrome Pós-Covid, atinge mais as mulheres com idade entre 25 e 60 anos que têm vida ativa. Na maioria dos casos, as pacientes não estão acima do peso e nem tem doenças do grupo de risco. Muitas pesquisas vêm sendo feitas para trazer respostas mais concretas sobre o que causa os sintomas duradouros. “Por enquanto, recomendamos que as pessoas permaneçam ativas e façam atividade física para não prejudicar o condicionamento físico depois da doença”, alerta o médico Nicolas Barizien.
Fonte: UOL