Entre as vacinas que estão em desenvolvimento no Brasil, a fórmula da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) deve ter alguns resultados iniciais para divulgar em breve. O imunizante está na fase de testes em camundongos, conhecidos como ensaios pré-clínicos, e dados relativos a essa etapa devem ficar prontos no fim de fevereiro.
Uma vez que esses estudos sejam concluídos, será a hora de fazer os testes clínicos em humanos – que são compostos por três fases. Na primeira etapa, é observada a segurança da vacina. O segundo passo verifica se a fórmula produz resposta imunológica – ou seja, se leva à formação de anticorpos. Já a terceira fase testa a eficácia da substância.
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O imunizante criado na UFMG usa o vírus influenza vivo atenuado – como está mais fraco, o microrganismo não é capaz de infectar o paciente, mas estimula a corpo a desenvolver anticorpos para se defender dele. É a mesma técnica adotada na vacina contra a febre amarela.
Quem coordena a pesquisa é Ricardo Gazinelli, pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e professor da UFMG. “Os estudos iniciais já apontam que a vacina induz respostas de linfócitos T muito fortes e produção de anticorpos também”, comemora.
Gazinelli já se preocupa com o financiamento da fase 3 de testes clínicos em humanos. Ele lembra que essa etapa custa centenas de milhões de reais. “Como vivemos do financiamento do Estado, o governo precisa tomar uma decisão nesse sentido”, reforça.
Paralelamente, outro grupo de cientistas da UFMG estuda a criação de um imunizante com base na vacina BCG, usada contra a tuberculose. “A gente já trabalhava com BCG. Cada um utiliza sua expertise para buscar a solução”, explica Sérgio Costa Oliveira, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
A ideia é fazer a bactéria usada na vacina contra tuberculose produzir a proteína do novo coronavírus. Se der certo, a fórmula pode proteger tanto contra a tuberculose quanto contra a Covid-19: uma vez injetada no paciente, deve fazer o organismo produzir anticorpos contra ambas as doenças.
Para a primeira fase da pesquisa, os recursos já estão garantidos, mas, quando chegar a etapa de testes clínicos em humanos, outros investimentos serão necessários. Oliveira acredita que eles só vêm no segundo semestre deste ano.
E não basta ter os recursos disponíveis: a importação de insumos ainda é bastante burocrática. “Vacina pronta já demora para importar, imagina para desenvolver aqui”, ressalta. “Por isso, os governos precisam investir na Ciência. Se não depende de a China mandar material para a gente.”
Fonte: G1