Uma pesquisa brasileira publicada na semana passada na revista Virus Research comprova a coinfecção por duas variantes do novo coronavírus. Essa foi a primeira vez que foram encontradas duas linhagens distintas do microrganismo causador da Covid-19 em pacientes com a doença.
Fernando Spilki, virologista e coautor do estudo, aponta que achado tão robusto é inédito no mundo. “Havia a desconfiança de que isso já teria ocorrido, até porque esse tipo de fenômeno é esperado no caso dos coronavírus. Ele está na base da criação de variantes na natureza”, afirma.
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A principal preocupação da coinfecção por duas cepas não é em relação ao agravamento da doença, mas sim à recombinação dos genomas das variantes presentes no indivíduo contaminado. Isso porque esse processo pode produzir linhagens mais agressivas ou transmissíveis.
O estudo foi realizado em conjunto pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), e pelo Laboratório Nacional de Computação Científica, de Petrópolis (RJ).
A descoberta da coinfecção
Para a pesquisa, foram selecionadas amostras do material genético de 92 infectados com Covid-19. Os pacientes tinham entre 14 e 80 anos, sendo metade homens e metade mulheres.
Os cientistas fizeram o sequenciamento genético do material coletado e identificaram cinco variantes do novo coronavírus, assim como a infecção simultânea por duas linhagens em duas mulheres. Ambas apresentaram sintomas leves da doença.
Em uma delas foram detectadas duas cepas que já estão no país desde o início da pandemia. Já a outra paciente estava contaminada com a variante P.2, que é mais recente e tem maior potencial de contágio.
Spilki lembra que há duas variantes de alta transmissibilidade em circulação, a P.2 e a britânica. “Temos também a P.1 que, ao que tudo indica, pode provocar casos mais agressivos”, diz. “Vamos imaginar que, com a circulação desenfreada do vírus, essas cepas se encontrem no mesmo indivíduo. A recombinação do genoma pode dar origem a uma mutação com as duas características: mais transmissível e mais agressiva. Isso tornaria o controle da doença ainda mais difícil.”
Apesar da possibilidade de os imunizantes existentes não serem eficazes contra as mutações, a vacinação em massa da população segue sendo fundamental. Quanto mais indivíduos estiverem imunizados, menor será a probabilidade de coinfecção por duas variantes e, consequentemente, haverá menos chance de surgirem novas linhagens.